Você não vai acreditar, mas esse fim de semana me peguei repetindo para os meus filhos as lendas urbanas contadas pela vó Gilda. Comecei falando que o clima de Santa Rita era bom, por isso ali foi construído um sanatório, onde os doentes com tuberculose antigamente eram levados.
Falei também que a vó acreditava que manga caída do pé não prestava porque era quente, que limão com sal corta o sangue, que as pessoas ficam com a boca torta quando o reflexo do sol ilumina o rosto, no mesmo instante em que passa um vento.
Depois contei sobre a quantidade anormal de raios que cai na cidade. E que a vó Gilda colocava a culpa disso na grande quantidade de ferro do solo. Lembrei da história da mulher que precisava ser enrolada em correntes, e subir em um pneu nos dias de tempestade, porque ela atraía os raios. E do caso de gêmeos que morreram na queda de dois raios diferentes, enquanto trabalhavam em fazendas distantes uma da outra.
Falei das conversas impressionantes sobre o Chico Pó de Arroz, o malfeitor da cidade; das Guataparás, as três irmãs que só caminhavam juntas, vestidas de negro; da Belém e de suas mil e tantas bijuterias penduradas; e da Elza Bombini que, além de dezenas de gatos, tinha também um sapo de estimação.
Meus filhos me olhavam incrédulos, como se eu estivesse contando histórias de realismo fantástico, escritas em qualquer livro do Garcia Marques.
Enquanto eu falava sobre a mitologia santarritense, os três remexiam as memórias da infância visitando o Deserto do Alemão, o terreirão da Paulistinha, a casa onde a mãe viveu e que agora é uma pizzaria.
A mãe te contou por que a gente foi pra lá no sábado? Ela, meus filhos e eu fomos fazer parte de um sonho acordado. A Manuela casou. O casamento mais lindo e emocionante que já vi.
A casa estava vestida de flor. O ar era preenchido por cores, aromas e música. O dia era num tom de azul quase inexistente, azul que não há. E a noite fria aquecida pela beleza da lua e do céu sujo de estrelas.
Comecei a chorar assim que a Manu e o João passaram pelo portão. Ele era o pai mais orgulhoso e emocionado. E ela… ah, ela parecia um poema.
A Fer e a mãe do Henrique celebraram a cerimônia. Consegue imaginar alguma coisa mais poderosa do que mães desejando a felicidade dos filhos? Foi maravilhoso.
O Ge fecharia a noite tocando pra irmã. O fio da cumplicidade que une os dois, amarra a gente pelo coração.
Tia Maria Gilda não estava ali. Tia Maria Gilda estava ali. Em cada canto, em cada pedra do alpendre e naquela borboleta que voou entre os convidados e pousou nos noivos. Acredita?
Quase percebi a presença do Mario Sergio, da tia Irene, da tia Zita e até do pai, que sempre amou estar naquela casa.
Outro dia li que os antigos diziam que a tosse, a miséria e o amor não são passíveis de ocultação duradora. Acabam se mostrando com indisfarçável realismo.
O amor nesse sábado foi mesmo indisfarçável. E sendo em Santa Rita do Passa Quatro, indisfarçável realismo fantástico.
Bettina, ja nem me lembro como eu comecei a seguir o seu blog… (um dos mais lindos que eu ja vi) acho que alguem curtiu e li alguma coisa de Santa Rita. Acho que voce, como eu, nao cresceu por la, e sim passou ferias e finais de semanas com a familia. Nao escutei as mesmas lendas urbanas que voce, mas seu texto me trouxe lembrancas incriveis!!!! Vou mostrar seu blog para a minha mae e para minha irma, que tem uma memoria incrivel. Seu nome e Bettina Bopp? Meu avo era Alceu Ribeiro Meirelles, filho da avenida Severino Meirelles… hehehe. Um beijo pra voce
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Sim, querida. Mas minha mãe é Abreu. Meu avó foi delegado em Sta Rita 22 anos! Minha avó é Gilda Lot de Abreu. O irmão da minha mãe é o José de Abreu. Bj
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Gostei das estórias, conheço algumas delas em versões um pouco diferentes ri ao lembrar delas. E o casamento que sonho, que lugar… amei como sempre. Um beijo
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Se toda a decoração da festa já havia me emocionado, sem ligação direta com as pessoas envolvidas em todo o evento, este texto arrepiou, como se pudéssemos entrar na história da família, como se estivéssemos lá, sentido a energia, o amor e a história do conjunto todo, cada detalhe da festa, visto em foto, ajudaram a narrativa do texto. Parabéns ao bom gosto, a criatividade e acima de tudo a sensibilidade a flor da pele.
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Obrigada, Amélia! Fico feliz que leia, goste e se emocione! Bj
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Esse matrimônio é abençoado por Deus com dia lindo!!!
A professora Elza Bombini com seus mais de 90 anos, hoje tem 6 gatos, voz de moça ao telefone e bem lúcida.
Felicidades à Família!!!
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Que bom! Elza sempre foi querida pela minha familia!
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Oioi teamo
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oioi, você por aqui? amoamo
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Nossa vi sua história no UOL e como me emocionei. Linda o amor tem várias formas de ser interpretado com um coração cheio de dor para ser esvaziado. Beijos e força, afinal, o mais importante disto tudo é o amor.
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Obrigada pelo carinho, Patricia! Bj
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Olá Bettina! Li um artigo no site da Folha de S.Paulo e corri pra cá com os olhos marejados que ainda estão. Creio que em todos esses anos voce e a familia já devem ter ouvido o que tenho pra dizer mas ainda assim devem ter duvidas, por isso falarei.
Há consciencia em Ita. Diferente mas há.. continue com o seu trabalho maravilhoso aqui mas leia tudo isso pra ele também (talvez vc já o faça, inclusive). Conte verbalmente a ele tudo o que puder, todo o tempo que puder. Há consciencia.. diferente de como entendemos mas há. E por que vim até aqui te dizer isso? Não dormi tanto tempo como Ita.. mas já morei nesse buraco do coma. Já sonhei muito com a realidade externa que me permeava. Minha mae nao me visitava, nao conseguia encarar a realidade e em meus “sonhos” eu sabia que ela nao podia me ver mas estava perto.
Acordei nao sabendo de tudo… mas de muita coisa. Na verdade não acordei sabendo, mas a medida em que ia sendo informada – lentamente – tudo fazia sentido pra mim. Cada acontecimento com um “sonho” correspondente.
Ele pode nao raciocinar a respeito do que se passa… mas tem consciencia. =)
Um abraço,
Ana Blanco
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Que lindo, Ana, obrigada por me trazer essas palavras! Um beijo carinhoso!
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Que mensagem linda, Ana! Obrigada por compartilhar. Ninguém com tanta clareza me disse isso! Importante, acredite! Bj
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Olá Bettina! Li um artigo no site da Folha de S.Paulo e corri pra cá com os olhos marejados que ainda estão. Creio que em todos esses anos voce e a familia já devem ter ouvido o que tenho pra dizer mas ainda assim devem ter duvidas, por isso falarei.
Há consciencia em Ita. Diferente mas há.. continue com o seu trabalho maravilhoso aqui mas leia tudo isso pra ele também (talvez vc já o faça, inclusive). Conte verbalmente a ele tudo o que puder, todo o tempo que puder. Há consciencia.. diferente de como entendemos mas há. E por que vim até aqui te dizer isso? Não dormi tanto tempo como Ita.. mas já morei nesse buraco do coma. Já sonhei muito com a realidade externa que me permeava. Minha mae nao me visitava, nao conseguia encarar a realidade e em meus “sonhos” eu sabia que ela nao podia me ver mas estava perto.
Acordei nao sabendo de tudo… mas de muita coisa. Na verdade não acordei sabendo, mas a medida em que ia sendo informada – lentamente – tudo fazia sentido pra mim. Cada acontecimento com um “sonho” correspondente.
Ele pode nao raciocinar a respeito do que se passa… mas tem consciencia. =)
Um abraço,
Ana Blanco
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Tão linda sua mensagem, Ana. Tão linda sua experiência. Tão lindo seu texto sobre o sono. Fiquei encantada e emocionada. Um beijo
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Haja coração para ler seus textos!!!! É amor em forma de palavras,tenho imensa gratidão por você,por dividir esse lindo amor fraternal conosco , meros leitores.
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Aline, suas mensagens são muito lindas. Obrigada pelo carinho!
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