Você não vai acreditar, mas Albert Woodfox passou 43 anos na solitária de uma prisão americana. Nas 23 horas diárias dentro da cela, o Pantera Negra leu qualquer coisa que caísse em suas mãos pra não enlouquecer.
A solidão existe. Imposta ou não, ficcional ou não, passageira ou não, ela existe.
Neusa arruma as malas todas as manhãs e vai até o aeroporto. Senta-se ao lado da bagagem, não conversa, não lê, não sorri. Volta pra casa quando anoitece.
Kenneth prepara sorvete e doze hambúrgueres caseiros, porque espera os seis netos para jantar. Só um deles aparece.
Eleanor recolhe o arroz deixado na escada da igreja onde casamentos acontecem. Depois, passa o resto do tempo debruçada na janela.
Ornélio caminha até a praça, alimenta os pombos com os restos de comida, enquanto assiste aos jogos de futebol na televisão do bar do outro lado da rua. Não importa o time jogando, importa o tempo longe de casa.
Clarice não tem medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas. Ela encontra força na solidão, pois também é o escuro da noite.
Luiz, de 12 anos, chega de volta ao abrigo apenas com uma mochila nas costas, sem brinquedos ou livros. O menino está ali porque foi devolvido. Depois de cinco anos em uma família, a mãe adotiva não o quer mais.
Dilma liga a televisão e assiste o mesmo episódio da mesma série no volume mais alto pra conseguir não ouvir a manifestação de ódio do lado de fora da janela.
Leo desce e sobe as escadas do colégio no recreio, fingindo pressa, quando na verdade ninguém o espera. O sinal bate e Leo se sente aliviado.
Augusta abre a janela do quarto, acende a luz da sala, alimenta os pássaros da gaiola, conversa com o cachorro e vai para a cozinha preparar alguma coisa pra comer. Sente-se mal e cai no chão. O corpo só é encontrado oito anos depois.
Panetone abana o rabo quando o escrivão se aproxima e joga um pedaço de presunto pra ele. Deitado na porta da delegacia há doze dias, espera pelo dono condenado.
Lucia cria um perfil falso em uma rede social. Escolhe a foto de uma morena sorridente, posta posicionamentos e crenças que não são dela, recebe uma dúzia de curtidas e cinco solicitações de amizade. Vai dormir feliz, com a sensação de pertencer.
Nos meus momentos de solidão, a sua solidão me apavora. Te imagino preso em uma solitária, tentando entender quem é, com malas prontas pra seguir pra uma viagem sem destino certo, aguardando por alguma coisa que nunca chega ou esperando ser devolvido pra o abrigo de onde não deveria nunca ter saído. Te imagino recolhendo memórias no escuro e alimentando poucas sensações, enquanto assiste o mesmo cenário – o que tem de tão especial naquele teto branco? Como alívio e certeza, só saber que você ainda nos pertence, mesmo que o tempo e a distâncias digam não.
Pungente o seu relato! Descobri seu blog faz pouco tempo. Li todos os posts e a cada domingo cá estou me emocionando com o que você escreve. Nunca comentei porque nem tenho palavras pra expressar o quanto a admiro e me surpreendo com a sua resiliência. Mesmo nos momentos de extrema solidão, como você bem acabou de relatar, sinto sua tremenda força que me faz acreditar num final feliz, depois de todas essas dores. Não desista, continue confiante e tranquilize seu coração, vocês jamais estarão sós. A vida é essa força maravilhosa que a todos guia, mesmo que às vezes não possamos entender, basta aceitar. Grande abraço, Hilda
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Obrigada pelo seu carinho, Hilda! beijo com o nosso!
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Bonito texto, e como eu sempre digo, muito bem escrito. Gosto do jeito que você escreve. Parabéns! Continue assim =)
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Beijo, Marcelo
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Viceral!
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querida!
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Amo tudo que vc escreve, o amor nasce em suas belas palavras, apesar de não os conhecer, tenho um carinho muito grande pela sua linda família!!!
Tenho certeza que o Ita irá acordar e nos dar o prazer de ler o blog “Quando eu acordei”, Deus lhe abençoe…bjs
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beijo com nosso carinho, Fabiane
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“Ela encontra força na solidão, pois também é o escuro da noite.” Amo ler o que escreves, me sinto humano, me sinto na obrigação de sorrir, obrigado por me ensinar!
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Obrigada pelo carinho!
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Bettina
Faz do teu blog um livro!
Vc faz ideia de como suas palavras podem tocar? Vc faz ideia?
Seu amor transborda
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Ah, que querida! Quero muito! Beijo, Daniela
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Bettina que força e que luz a sua , seu irmão deve ter o maior orgulho de você , tá ele está preso a uma cama olhando para um teto branco, mas creio que nosso espírito é livre desse corpo denso que temos aqui, e com certeza ele acompanha todos os seus pensamentos e suas atitudes , pois o amor os une , são parceiros de uma vida eterna , de muitas caminhadas então não é esse corpo preso a uma cama que irá separar vocês , o espírito dele está sempre a te ouvir e te acompanhar , sua força sua luz o fortalece , lindo demais o sentimento que os une , sou filha única de 07 filhos fui a única que sobrevivi, os demais nasciam e no máximo em dois dias morriam, então não tive o prazer de ter uma irmã como você. Hoje tenho um casal uma pequena de 07 anos e um pequeno de 04 anos , espero que eles sejam unidos assim como você e seu irmão, que o amor seja maior do que todas as coisas desse mundo que vivemos, que supere as paredes, as doenças e qualquer cortina que insista em separá-los. Parabéns por ser essa pessoa tão especial , capaz de amar acima de tudo .
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Que linda sua história, Luciana! E que missão importante a sua! Única de sete irmãos! Seus pequenos fizeram bem em escolher alguém com tanta força! Bj
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Linda ideia compartilhar! Textos inteligentes que surpreendem pela clareza, poética e profundidade. Pequenos acontecimentos que vc transforma em grandes momentos e nos põem para pensar.
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Obrigada, Renata! Fico feliz que tenha gostado! Bj
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