Você não vai acreditar, mas estou triste. É assim, desse jeito. Uns dias chove, noutros dias bate sol dentro de mim. Não sei se é a Páscoa, a lua sangrenta, o cheiro do outono, o comercial de despedida da Kombi. Hoje, to chovendo por dentro.
Reli o conto do Guimarães A Terceira Margem do Rio esses dias e pensei muito em você. Há algum tempo, a Bruna me chamou atenção pro conto e das semelhanças de se viver assim, nem lá nem cá, como você está.
Era o título que a vó Silvinha mais gostava, lembra? Mas acho que ela nunca imaginou que você escolhesse viver um dia na terceira margem.
Que a arte me aponte uma resposta…
Encomendou a canoa especial, (…) própria para dever durar na água por (…) anos.
Sem alegria nem cuidado, (…) decidiu um adeus para a gente. E a canoa saiu se indo.
Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais.
A estranheza dessa verdade deu para estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia.
(…) nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente.
A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade.
O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como agüentava. (…) por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do se-ir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, (…) não pisou mais em chão nem capim.
(…) nunca mais riscou um fósforo.
O que consumia de comer, era só um quase. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma.
A gente imaginava nele, quando se comia uma comida mais gostosa;
Nem queria saber de nós; não tinha afeto?
Sendo que, se ele não se lembrava mais, nem queria saber da gente, por que, então, não subia ou descia o rio, para outras paragens, longe, no não-encontrável? Só ele soubesse.
Os tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos.
(…) esta vida era só o demoramento.
Eu permaneci, com as bagagens da vida.
Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade.
Sofri o grave frio dos medos, adoeci.
De que era que eu tinha tanta, tanta culpa?
É isso, Ita. Guimarães me emprestou as palavras todas…
Tem hora em que penso que a gente carecia, de repente, de acordar de alguma espécie de encantamento – Grande Sertão: Veredas
Como o tempo e as palavras dão um jeito de se encontrar
Tão sábia Vó Silvinha, viu nas palavras de Guimarães Rosa mais profundidade do que poderiamos notar
Tão talentosa e com a alma exposta você viu nos dois a saudade e o amor que espera hoje com mais paciência o barco voltar
Estou na beira com você
Nos dias de chuva e nos dias de sol
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Eu sei, Lula, por isso a espera é mais fácil! Te amo!
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“Quando nada acontece há um milagre que não estamos vendo.”
Sou mais você do que Guimarães, mãe.
Te amo!
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Nem brincando…”O amor tem feito coisas”, né, Bubuminha?! Por isso essa preferência! E eu também te amo mais do que o amor é capaz!
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Tudo lindo !!! vcs me emocionando sempre !!! Beijinhos
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Beijinhos também, Tininha!
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❤
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Beijinho, Kris!
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