Você não vai acreditar, mas sabe aquele cruzamento da Helio Pelegrino com a República do Líbano? Na última segunda, estava passando por ali e no canteiro central vi dois caras, de camisa e sapato, às 8h30, rolando na grama, enquanto se socavam. Não sei quem eram. A única certeza é de que eram intolerantes.
O trânsito estava parado – não por causa deles, mas do horário – e então fiquei bem na divisória entre as duas pistas, próxima a eles. Abri a janela e comecei a gritar: “Para com isso! Para, chega!”. Meio ridículo, mas foi instintivo. Não queria deixar aquilo acontecer, não queria que aquilo virasse notícia ou estatística. Poderia ser meu filho, poderia ser seu filho. Não fui a única. Uma menina vestindo roupa de ginástica desceu do carro e também gritou com eles e outras pessoas foram separar.
Em agosto passado, o Lucca saía de uma balada de madrugada e, a pé, acompanhava uma amiga que morava na rua de trás. De dentro de uma Santa Fé que subia a Rua Quatá na contramão, desceram cinco covardes e bateram nele de graça, porque ele estava no lugar errado, na hora errada, num mundo errado.
Um taxista parou o carro, o que intimidou os covardes, colocou o Lucca e a menina pra dentro e levou os dois em segurança até o prédio dela. Ele mesmo disse que isso acontece com frequência nas madrugadas da Vila Olímpia – milhares de ratos habitam a Vila Olímpia, lembra? Um grupo escolhe alguém, desce, espanca, entra no carro e vai embora, quem sabe comer um temaki, como se nada tivesse acontecido.
Foram onze pontos na boca, mas perto do que poderia ser, agradeci.
Ainda bem que existem ainda um taxista e uma menina com roupa de ginástica valentes.
Não gosto de te dar essas notícias, Ita, mas o que eu quero te dizer que a coisa aqui ta preta. A mímica do filme com três palavras é Intolerância e Preconceito. Não dá pra cortar a primeira ou a última palavra.
E não é brincadeira, é barbárie.
A barbárie é um ato considerado ‘desumano’ porque não respeita os fundamentais valores conquistados no campo da ética, do direito, da ciência, da democracia e da própria organização social.
O texto é duramente lindo e sensível. Amei! Não pare nunca de escrever.
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Uhuu, vindo de vc, querida, este elogio vale por dois! Bj grande e as saudades aguardando abril!
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Lindo!! Quero ler um por semana no mínimo!
Te amo
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Lula, a ideia é essa, um por semana! Te amo tb!
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Nossa, mãe, reli este texto e ele é muuuuito bom!
Impressionante como você consegue falar de qualquer assunto de uma maneira tão bonita e interessante.
Te amo!
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Bubu, vc é inacreditável! Te amo mais, tá?
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Caiu como uma luva a sua última frase, pra uma conversa q tive hj. Levei para compartilhar. Seu blog foi pra minha lista de Favoritos. Parabéns!
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Fico feliz, obrigada! Um beijo!
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